Pedagogia de Fevereiro 2024

01 de Fevereiro de 2024


Pedagogia mistagógica - FEVEREIRO 2024 
OUVIR A VOZ DE DEUS 
“Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8)

Ouvir a voz de Deus
Se no Tempo de Natal a espiritualidade do encontro é marcada por sinais que conduzem a conviver com o Emanuel, conviver com Deus que está entre nós, na primeira parte do Tempo Comum – B, a espiritualidade e a pedagogia mistagógica se caracteriza pela dinâmica da escuta desse Deus Emanuel, Deus vivendo entre nós. Por isso, a proposta da pedagogia mistagógica de OUVIR a voz de Deus.

Ouvir é um verbo e, como todo verbo, indica um movimento, uma dinâmica. Nas propostas celebrativas do SAL, o momento do ouvir acontece pelo acolhimento. Sendo acolhimento, percebe-se que o movimento do ouvir não consiste em entrar por uma orelha e sair por outra, mas de entrar pelo ouvido e cair no depósito do coração, como refletimos na Solenidade da Mãe de Deus, guardando todas as coisas no seu coração (Lc 2,19). Um movimento que, nas propostas celebrativas da primeira parte do Tempo Comum, sugeriam, nas três primeiras celebrações do início do Tempo Comum, três atitudes presentes em três verbos: acordar, converter e discernir.

De modo resumido, a pedagogia mistagógica propunha: 
A primeira atitude, do acordar, encontra-se no 2DTC-B: acordar os celebrantes de sonos existenciais para se colocarem na escuta e ao serviço da Palavra de Deus. No 3DTC-B, a finalidade do despertar de sonos: a conversão da mentalidade para pensar com os mesmos pensamentos de Deus e, no 4DTC-B, o movimento do discernimento. Discernir com a luz da voz divina os pensamentos de Deus para não cair nas tentações de tantas outras vozes que falam dentro de nossas vidas.

Na continuidade da primeira parte do Tempo Comum – B, neste ano de 2024, as propostas celebrativas do Sal sugerem um único verbo para os dois últimos Domingos (5DTC-B e 6DTC-B): o verbo curar. A voz de Deus é falada na história de nossos dias como palavra para “curar” a sociedade adoecida (5DTC-B) e curar a sociedade excludente (6DTC-B). Facilmente se percebe que as propostas celebrativas do SAL propõe as consequências sociais na comunidade que ouve a Palavra de Deus.


Evangelizar para curar a cidade adoecida
A presença do Evangelho vivo, Jesus Cristo, na cidade, atrai toda a população para ouvir a voz de Deus e ser curada de suas enfermidades. O Evangelho do 5DTC-B apresenta a sede de ouvir a Palavra de Deus para ser curada de suas enfermidades. É uma pedagogia mistagógica que releva a força curativa da evangelização dentro da cidade. Não se evangeliza para ter prosélitos, mas, entre outras e tantas finalidades, para curar a sociedade com os valores do Evangelho.

Um efeito dessa cura é a eliminação da exclusão social; curar a sociedade excludente, como sugerido na proposta celebrativa do 6DTC-B, refletindo a aproximação de um leproso acolhido por Jesus para restaurar sua dignidade. A mensagem central é o desejo divino de curar os excluídos e devolver-lhes a dignidade da vida. O mesmo tema da finalidade curativa da evangelização, proposto no 5DTC-B, repete-se no 6DTC-B propondo a evangelização para curar as discriminações sociais em vista de uma sociedade fraterna e caridosamente solidária.

“Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8) 
Depois dos dois últimos Domingos da primeira parte do Tempo Comum – B, neste ano de 2024, tem início o Tempo da Quaresma. Você irá perceber que os Domingos do Tempo Comum – B, celebrados em fevereiro 2024, fazem a função de ponte: são construídos na margem da continuidade do Tempo Comum iniciado em janeiro 2024 e, conduzem para a margem do outro tempo, a Quaresma, em modo de preparação. A cidade adoecida (5DTC-B) e excludente (6DTC-B) é a imagem de uma cidade que não cultiva a fraternidade, com a consequência de uma possível perda da “amizade social”. Por isso, o lema da Campanha da Fraternidade 2024 servirá como luz da pedagogia mistagógica nas propostas celebrativas da Quaresma deste ano.

O tema e o lema da Campanha da Fraternidade 2024, dizem os coordenadores da CNBB, “refletem a preocupação do episcopado brasileiro em aprofundar a fraternidade como contraponto ao processo de divisão, ódio, guerras e indiferença que tem marcado a sociedade brasileira e o mundo.” A escolha desse tema reflete a preocupação com a promoção do bem-comum e da paz social enfatizando a importância de atitudes em vista da unidade social a partir da fraternidade cristã.

O início do caminho quaresmal, na proposta celebrativa da 4ª feira de cinzas, faz o primeiro apelo em favor da fraternidade em vista da amizade social. Trata-se de um apelo necessário diante das divisões recentes motivadas por ideologias políticas e pela ideologia da polarização. No meio da sociedade, o cristão é convocado a ser um construtor da paz (Mt 5,9) e, compreende-se facilmente, que isto significa ser promotor ativo da fraternidade.

Depois de traçar o projeto e o objetivo do cristão como promotor da fraternidade, o 1DTQ-B chama atenção para a agressividade presente nas tentações, capaz de tirar da estrada do discipulado para caminhar em caminhos promotores de inimizades. Diante da agressividade psicológica e espiritual, presente em toda tentação, a proposta celebrativa do 1DTQ-B ampliará a proposta de Jesus: fortalecer-se pela conversão e pela fé no Evangelho para não ceder e abandonar a estrada do discipulado.

O segundo momento da pedagogia mistagógica, presente na proposta celebrativa do 2DTQ-B fortalece os celebrantes pela contemplação da glória divina, presente na Transfiguração do Senhor. A contemplação da glória divina é uma necessidade para não sofrer alguma desilusão diante da desfiguração causada em Jesus pela sua Paixão e Morte. O contemplativo não desanima diante de uma sociedade desfigurada pela divisão causada pela inimizade social porque sua força reside na esperança da vitória sobre a morte: a Ressurreição.

Concluindo
As propostas celebrativas do SAL para o mês de fevereiro 2024 estão iluminadas no tema da fraternidade social. No processo da pedagogia mistagógica, os celebrantes são colocados diante da sociedade adoecida (5DTC-B e 6DTC-B) ao mesmo tempo que são convidados a entender a evangelização como meio para curar inimizades e divisões sociais através da fraternidade cristã.

O tema da promoção da fraternidade, dizem os bispos do Brasil (CNBB) através da Campanha da Fraternidade 2024, é um caminho de conversão em vista da “amizade social”. Isto é proposto como resiliência de não ceder às tentações contra a fraternidade (1DTQ-B), da qual a contemplação da glória divina (2DTQ-B) é motivo para não desistir diante de tantas desfigurações sociais que percebemos no meio da nossa sociedade.

Serginho Valle 
Dezembro de 2023