Pedagogia mistagógica de julho 2023

01 de Julho de 2023


Pedagogia mistagógica de julho 2023


O EVANGELHO


As celebrações de julho 2023 são marcadas pelas parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus. Do ponto de vista teológico, o Reino de Deus é encontrado por quem cultiva a Boa Semente do Evangelho. Isso oferece a possibilidade de a pedagogia mistagógica das celebrações dominicais de julho 2023 destacar o Evangelho, apresentando-o como fonte da vida cristã (Pedro e Paulo), como jugo leve e suave (14DTC-A), como boa semente (15DTC-A e 16DTC-A) e como uma pérola preciosa de grande valor (17DTC-A).


Evangelho e Reino de Deus 
Evangelho e Reino de Deus são duas realidades que, necessariamente, se relacionam. O Reino de Deus como projeto divino para a vida humana, seja a vida pessoal como a vida comunitária, considera o Evangelho como a Boa Semente que semeia o Reino de Deus (15DTC-A). Entende-se que o Reino de Deus contém o Evangelho e o Evangelho contém o Reino de Deus.


Esta distinção, demonstrando o inter-relacionamento de Evangelho e Reino de Deus, é necessária para não se criar confusão na interpretação das parábolas do Reino que serão proclamadas nos Domingos: 15DTC-A, 16DTC-A e 17DTC-A. Isto esclarece, desde já, que aquilo que é proposto mistagogicamente para o Evangelho contém igualmente o Reino de Deus.


As propostas celebrativas do SAL – Serviço de Animação Litúrgica – para o mês de julho 2023 são iluminadas pela “identidade” do EVANGELHO, como mencionado acima. Trata-se de um aspecto da “identidade” do Evangelho, evidentemente limitada pelas celebrações Dominicais de julho 2023.


Entrando em contato com a “identidade” do Evangelho nas parábolas do Reino, um elemento que será percebido ao preparar as celebrações de julho 2023, é a dedicação e o esforço que o Evangelho exige de quem acolhe o projeto divino presente no Reino de Deus. Sim, o Reino e o Evangelho são dons, graça, mas não nos exime do esforço, da dedicação, do trabalho cuidadoso e zeloso no cultivo da Boa Semente (15DTC-A). O Evangelho e o Reino de Deus exigem esforço e disposição para se colocar na procura da pérola preciosa (17DTC-A), qualificando os celebrantes como buscadores do Reino de Deus que peregrinam no caminho do Evangelho.


O Evangelho
O que é o Evangelho? Esta é uma pergunta que poucas vezes escutamos e pouco fazemos. Tanto ouvimos falar de Evangelho, lemos o Evangelho, meditamos e rezamos com o Evangelho, mas nem todos os cristãos conseguem descrever o Evangelho para além de um livro que contém os ensinamentos de Jesus. É muito para um cristão.


Fiz uma pesquisa rápida no Google e uma definição do Evangelho o descrevia como quatro livros contendo a doutrina e a história de Jesus Cristo. O Evangelho é único, dividido em quatro livros. Jesus não propôs uma doutrina, mas um estilo de vida, cujo projeto existencial encontra-se nos valores do Reino de Deus. O Evangelho não conta a história de Jesus, porque não contém a biografia de Jesus; ele fez muito mais coisas do que narram os Evangelhos, diz São João (Jo 21,25). É o mesmo São João que afirma que o Evangelho contém aquilo que é necessário para vivermos em Deus, para possuirmos a vida eterna, que é o viver na vida divina (Jo 20,31). O Evangelho apresenta e propõe um estilo de vida para vivermos em Deus.


Nos limites deste texto, um modo de descrever o Evangelho é apresentando-o como a Boa Nova (Notícia) de todas as promessas e realizações presentes na Sagrada Escritura que se realiza em Jesus Cristo, ele — e juntamente com ele o seu Evangelho — é o alfa e o ômega da história. No Evangelho, portanto, não é uma simples síntese da História da Salvação, mas a plenitude da Salvação divina proposta misericordiosamente a cada homem e a cada mulher.


Todos os dias nós tomamos o Evangelho em nossas mãos para ouvir ou ler algum trecho do Evangelho. Todos os dias entramos em contato com a plenitude da Salvação divina. Este é o motivo, pelo qual no final da proclamação do Evangelho, o padre ou diácono o apresenta como “Palavra da Salvação!”


De fato, o Evangelho não é formado por palavras, mas é uma única Palavra, aquela que desceu de junto de Deus e se encarnou: "In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Hoc erat in principio apud Deum” (Jo 1,1-2). No princípio era a Palavra, e a Palavra é Deus se encarnando na pessoa de Jesus. Isto é o Evangelho. Esta Palavra que, no princípio de tudo, estava somente junto com Deus, agora está entre nós, sendo proclamada em nossas celebrações litúrgicas e ruminando em nossos corações. Está ao nosso alcance, como diz Paulo, citando Dt 30,14: Que diz ela, afinal? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração. Essa é a palavra da fé, que pregamos” (Rm 10,8).


Diante desse quadro, percebemos a importância e a pertinência do enfoque mistagógico no EVANGELHO nas propostas celebrativas do SAL – Serviço de Animação Litúrgica – para celebrar os Domingos de julho 2023. O espaço simbólico, por exemplo, proposto nas propostas celebrativas do SAL, darão destaque ao Evangeliário. No último Domingo de julho 2023, o Evangeliário será proposto como a pérola preciosa pela qual vale a pena deixar tudo e possuí-la. As canções propostas cantam o simbolismo da Boa Semente do Evangelho. As homilias estão sendo propostas em forma de pensamento sequencial em estilo de pedagogia mistagógica para iniciar e introduzir os celebrantes no Mistério da Salvação presente no Evangelho.


Dinâmica mistagógica com o Evangelho nas celebrações de julho 2023 
Nas celebrações de julho 2023, o Evangelho é caracterizado como:
São Pedro e São Paulo = fonte da vida cristã
14DTC- A = fardo e sabedoria da vida cristã
15DTC - A = semente plantada no terreno do coração
16DTC - A = semente cultivada juntamente com o joio
17DTC - A = pérola preciosa da vida cristã


Evangelho é fonte da vida cristã 
As celebrações de julho 2023 iniciam-se com a Solenidade de São Pedro e São Paulo. São dois campeões da fé por terem acolhido plenamente o Evangelho em suas vidas. É uma celebração que facilita introduzir os celebrantes na pedagogia mistagógica chamando atenção para o papel do Evangelho na vida de Pedro e Paulo. A pergunta de fundo é: o que significa o Evangelho na vida de São Pedro e São Paulo e o que significa o Evangelho na minha vida pessoal? A proposta celebrativa que destaca o Evangelho como a fonte existencial que dá sentido à vida de Pedro e Paulo, propondo o mesmo para cada celebrante: tornar o Evangelho a fonte existencial da vida de cada celebrante. Uma proposta que pode ser estendida a toda a vida da comunidade paroquial.


Evangelho é o fardo e sabedoria de vida 
Ao propor Pedro e Paulo como exemplos de pessoas que acolheram o Evangelho e o transformaram em fonte que alimentava o sentido de suas vidas, os celebrantes podem argumentar que os dois santos passaram muitas dificuldades em suas vidas. De fato, o Evangelho exige esforço e renúncia para quem o acolhe; isto é um peso, um fardo na vida da gente, como proposto no enfoque mistagógico do 14DTC-A. O tema do fardo (peso) implica esforço, renúncia, disciplina para carregar um fardo. Existem propostas existenciais, modos de viver, que são fardos pesados, que tornam a vida pesada, como que obrigando a pessoa a arrastar a vida qual um arado rasgando o chão. Talvez conhecemos pessoas que sobrevivem porque suas vidas são fardos pesados; viver não têm sentido algum. São depressivas, desanimadas, tristes. No 14DTC-A, a proposta existencial do Evangelho é apresentada como um fardo leve e suave.


O que é esse fardo? No contexto celebrativo do SAL para o 14DTC-A, o fardo é a sabedoria do Evangelho que dá sentido ao viver. O Evangelho propõe uma sabedoria de vida que exige humildade e simplicidade de coração para ser acolhida. E, uma vez acolhida e vivenciada, a sabedoria do Evangelho pouco a pouco vai modelando o coração da pessoa, tornando-o semelhante ao Coração de Jesus. O Evangelho, uma vez acolhido, modela o coração e o diviniza, tornando-o semelhante ao Coração de Jesus.


Evangelho é a Boa Semente cultivada no terreno-coração
A sabedoria do Evangelho não é adquirida unicamente pelo estudo da Bíblia ou em cursos de Teologia. O estudo é um meio de conhecer a sabedoria do Evangelho. Jesus diz que a sabedoria do Evangelho é plantada no coração da gente porque o Evangelho é uma Boa Semente. Esta característica do Evangelho encontra-se no 15DTC-A. Dizer que a Boa Semente do Evangelho é plantada no coração da gente é o mesmo que dizer que o Evangelho deve ser cultivado para produzir frutos evangelizados.


Todos os corações têm condições de acolher o Evangelho? Nem todos, mas em todos os corações o Evangelho é semeado. Estamos falando da parábola do semeador que, prodigamente, semeia a Boa Semente do Evangelho em todos os terrenos. Na 1ª leitura, o belo texto de Isaías, diz que Deus envia a chuva e a neve, a graça divina para irrigar todos os terrenos (corações), oferecendo condições para produzir frutos evangelizados. Por isso, no 15DTC-A, os celebrantes são conduzidos a tomar contato com aquilo que ocupa o centro de suas vidas (coração) e perceber se são cultivadores ou não da Boa Semente do Evangelho. Qual tipo de terreno é meu coração? Como cultivo a Boa Semente do Evangelho?


Depois da semeadura da Boa Semente do Evangelho, como acontece no trabalho agrícola, vem o cultivo da semente semeada. Isto pode ser um fardo (14DTC-A), dependendo da qualidade do terreno-coração de cada um. É no momento do cultivo que nós nos deparamos com o joio, com a semente do mal e da maldade semeada pelo inimigo, pelo demônio (16DTC-A). O Evangelho é a Boa Semente a ser cultivada em meio ao joio, em meio às provações, em confronto e em conflitos com o mal e por causa do mal. Isto é desafiador na vida cristã.


Na proposta celebrativa do SAL – Serviço de Animação Litúrgica – o 16DTC-A recebe o enfoque mistagógico do cultivo da Boa Semente do Evangelho em meio às resistências e dificuldades provocadas pelo mal e por deficiências humanas. No empenho de cultivar a Boa Semente do Evangelho, rodeado de joio — mal e maldade — aparece a necessidade de duas virtudes: perseverança e vigilância. Haverá momentos na vida que o mal se aparentará mais forte que a bondade do Evangelho. Para isso serve a perseverança; apesar da aparência que o joio cresce mais forte que a Boa Semente do Evangelho, perseverar no seu cultivo é preciso. Como é preciso estar atento, vigilante, para que ervas daninhas (joio do mal) não contaminem o terreno com maldades e com o pecado. Para isso, a vigilância.


Tem ainda outro detalhe que se refere ao tamanho da semente do joio: é bem grande, ao menos simbolicamente. O joio é semeado com grandes estruturas de mídia, de redes sociais, difundindo mentiras, agressividades, fake news, calúnias, racismo, ameaças... No 16DTC-A, o Evangelho diz que Jesus sabe disso e concorda que o tamanho da Boa Semente não é maior que um grão de mostarda. Mesmo assim, por ser uma Boa Semente, produz frutos e acolhe as aves dos céus, acolhe a vida daqueles que se confiam totalmente a Deus (Lc 12,24-29). Cultivar a Boa Semente do Evangelho é como jogar o fermento na massa para levedar a vida pessoal e a vida social com o Evangelho.


O Evangelho é uma pérola preciosa
Por que vale a pena chamar atenção dos celebrantes para o Evangelho? Porque o Evangelho é uma pérola preciosa de alto valor (17DTC-A). O Evangelho é uma pérola preciosa que precisa do o empenho de um comerciante para comprar e vender o seu produto, o esforço de um pescador que vai ao mar e depois de pescar precisa escolher o que pescou ficando somente com o que é bom, necessita do discernimento de um pai de família que abre o tesouro de sua vida para avaliar o que é bom e o que não serve mais.


Todos os verbos usados caracterizando o Evangelho como pérola preciosa de alto valor remetem a esforço, fadiga, fardo, renúncia. E assim entendemos um pouco mais o significado de o Evangelho ser um fardo leve e suave (14DTC-A). Compreendemos que o Evangelho exige o esforço de um agricultor que semeia e cultiva a Boa Semente e ameaçado pelo joio (15DTC-A e 16DTC-A). O Evangelho não é um livro passivo, é um bem que nos desafia a dedicar-se para possuí-lo protegendo e guardando-o no cofre do coração. Isto tem a ver com a sabedoria existencial que vem do Evangelho (14DTC-A).


Voltemos à pérola preciosa. O modo como Jesus fala da pérola, em relação às duas comparações — do pescador e do pai de família — faz compreender que se trata de uma pérola tão especial que precisa brilhar sozinha. Não pode brilhar ao lado de “peixes de baixa qualidade” e nem pode ser guardada em tesouros que contêm “coisas velhas”, quais fossem remendos novos em roupas velhas (Mt 9,16). A pérola preciosa do Evangelho é única e é a única pérola que precisa ser conservada em nossos corações porque ela contém o projeto divino do Reino de Deus, que é um projeto existencial que nos configura a Jesus Cristo (2L do 17DTC-A), capaz de tornar nosso coração semelhante ao Coração de Jesus (14DTC-A).


Espiritualidade litúrgica
Compreende-se que a pedagogia mistagógica das celebrações de julho 2023 tem a finalidade de apresentar o Evangelho aos celebrantes porque nele, no EVANGELHO, encontra-se a sabedoria da vida que contém o sentido existencial para cada ser humano, configurando o seu coração ao Coração de Jesus (14DTC-A). Em outras palavras, é cultivando a Boa Semente do Evangelho que divinizamos o nosso coração.


O cultivo da Boa Semente do Evangelho é um modo de abandonar a espiritualidade do mundo — o espírito do mundo — para acolher o Espírito Santo de Deus na vida pessoal e na vida da comunidade e viver segundo o Espírito de Deus (2L - 14DTC-A). Isto fortalece a vida cristã colocando mais atenção na esperança e na força da oração que nos sofrimentos, dando mais atenção ao bem e à bondade, que reclamações contra o mal que, até mesmo sistematicamente, espalha-se ao nosso redor (2L – 15DTC-A e 2L – 16DTC-A). A finalidade do crescimento na espiritualidade litúrgica, proposto nas celebrações de julho 2023, encontra-se na configuração a Jesus Cristo (2L – 17DTC-A) fortalecendo nos celebrantes o desejo divino de sermos santos como o Pai é santo; aqui encontra-se a perfeição da vida cristã (Mt 5,48).

Serginho Valle 
Junho de 2023