Pedagogia do mês de setembro 2022

27 de Agosto de 2022


Pedagogia de setembro de 2022

Nas propostas celebrativas dos Domingos de setembro 2022, sugerimos acolher a proposta pastoral da CNBB para o mês da Bíblia. É um modo de celebrar a Liturgia na paróquia sintonizando-se com a proposta pastoral do Mês da Bíblia.

 Neste ano, as reflexões do Mês da Bíblia inspiram-se no Livro de Josué, com o lema: “O Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás” (Js 1,9). A escolha do Livro de Josué, segundo os organizadores, inspira a comemoração dos 200 anos da "Independência do Brasil". Josué, líder religioso e líder político, ao buscar a sabedoria da Palavra de Deus para conduzir o povo à Terra Prometida, inspira as lideranças religiosas, políticas e sociais de nosso tempo, a buscar a sabedoria da Palavra de Deus para conduzir o povo nos caminhos da partilha fraterna e da justiça social, propostos na Palavra das celebrações de setembro.

 Josué foi uma grande liderança no caminho para a posse da terra prometida. Nos momentos de dificuldades, de desânimo, era a fé religiosa do povo, iluminada pela Palavra, que acendia ou renovava o ardor do povo. O exemplo de Josué inspira nossas comunidades eclesiais a serem voz que anima a fé e a esperança do povo a não perder o passo e a alegria de caminhar rumo à terra prometida de tempos de mais fraternidade e paz social. Em tal conjuntura, a Palavra de Deus lança um olhar crítico, no decorrer de todas as celebrações de setembro 2022, sobre a administração do bem público.

  

Administrar o bem público
Administrar é a palavra chave para compreender a pedagogia litúrgica deste mês de setembro 2022, inspirando-nos no tema proposto pelo Mês da Bíblia. Entre os sinônimos e significados do verbo “administrar” encontra-se o verbo “governar”. O governo de um povo é um administrador dos bens do povo: a vida do povo, em primeiríssimo lugar, a sua saúde, os bens do povo, a segurança...

 Devido a proximidade das eleições, a proposta da pedagogia litúrgica poderá ser confundida com campanha política. É um risco. Mas não é a intenção, uma vez que a Palavra das celebrações do Mês da Bíblia coincide em lançar um olhar profético para a realidade social e política do nosso país, que completa 200 anos de independência. A figura crítica do Profeta Amós favorece a aproximação da Palavra de Deus à nossa realidade social.

 
Administrar com sabedoria
A primeira proposta pedagógica convida os celebrantes a considerar a administração da sociedade a partir dos ensinamentos do Evangelho (23DTC-C). Isto acontece quando se conhece os pensamentos de Deus para o povo (1L do 23TC-C), o que significa olhar para a sociedade com a luz da sabedoria divina, intercedida pelo salmista: ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria” (SR do 23DTC-C).

 A sabedoria divina coloca duas exigências; ambas servem para a vida pessoal e para quem é escolhido para governar o povo: tomar a cruz e administrar. A expressão “tomar a cruz” no seguimento de Jesus não se configura a entrar num caminho de sofrimentos, mas de doação da vida. A sabedoria divina se faz presente quem vive na oblação plena da vida a ponto de desapegar-se de tudo, até dos seus interesses para viver como Jesus, fazendo a vontade do Pai.

 A sabedoria divina ensina administrar, governar a vida pessoal e o povo, sem aventuras. Jesus diz que antes de assumir um empreendimento, seja aquele de se colocar na estrada do discipulado como aquele de governar um povo (dentro do nosso contexto), exige a prudência de sentar-se e avaliar como agir: calcular os gastos para construir uma torre, avaliar as possibilidades de vitória antes da guerra. A administração da vida pessoal e da vida do povo, dirá a Palavra do 23DTC-C, não é aventureira, é calculada com a sabedoria e com a prudência de quem valoriza a vida pessoal e a vida do povo.

 

Administrar com a reta intenção para o bem
Um segundo elemento da administração, presente nas celebrações de setembro 2022, está sendo sugerido nas propostas do SAL – Serviço de Animação Litúrgica – do ponto de vista social. Chama atenção para o distanciamento de Deus da parte do povo. A 1ª leitura do 24DTC-C coloca a causa na idolatria, na fabricação de ídolos. É o “bezerro de ouro” que pode ser a idolatria do dinheiro, a idolatria de ideologias partidárias, a idolatria do poder, idolatria das riquezas... como todo ídolo, é sempre uma construção humana, uma proposta ideológica humana.

 O filho pródigo, no Evangelho do 24DTC-C, é exemplo de quem se distancia de Deus para buscar o ídolo do prazer, da vida transformada em festanças. Quem obedece à voz da idolatria, se não mudar de rota, vai terminar num chiqueiro, comendo porcaria (E do 24DTC-C). Isto pode acontecer individualmente, mas pode ser o destino de um povo que segue ideologias idolátricas de algum mito. Hitler é o exemplo maior desse fato.

 

Administrar com honestidade
A profecia para uma sociedade que alimenta como único objetivo do povo o crescimento econômico aparece no 25DTC-C. É quando entra em cena o Profeta Amós com as conhecidas denúncias que faz contra reis, governos e ministros que cultivam a “idolatria do mercado” em detrimento do povo. Nas assembleias celebrativas de nossas paróquias, a profecia de Amós denunciará a “idolatria do mercado” provocadora da pobreza e da fome num país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

 Na “idolatria do mercado” aparece a figura do “servo infiel”, relatada por Jesus no Evangelho do 25DTC-C. Muitos estudiosos da Bíblia dizem que, muito possivelmente, não se trata de uma parábola, mas de um comentário feito por Jesus ao saber que um servo de uma estatal ou de um banco público foi desonesto e se serviu da corrupção para enriquecer. Aquele administrador é o retrato de administradores (governos) desonestos, que privilegiam o individualismo, maltrata, oprime e domina o pobre (1L do 25DTC-C). Vale, portanto, a orientação de São Paulo para rezar pela honestidade dos governantes a fim de se ter uma vida social serena (2L do 25DTC-C).

 O outro lado da desonestidade encontra-se no exemplo divino, dedicando-se para levantar da poeira o indigente e para retirar do lixo o pobrezinho que passa fome (SR do 25DTC-C). A colocação dos dois quadros, daquele do administrador desonesto e da administração divina, cantada pelo salmista, ilustram dois modelos de administração.

 

Administrar com solidariedade
Por fim, no último Domingo de setembro, o 26DTC-C, no qual se celebra o “Dia da Bíblia”, a Liturgia volta a ser profética contra os cultivadores da “idolatria do mercado” classificando os pobres como seres de segunda categoria por não terem “poder de compra”. Como em toda idolatria, o resultado dessa ideologia que toma conta de políticas públicas, é injusta e cruel por condenar os mais pobres a morrer de fome. Esta é a profecia de Amós (1L do 26DTC-C): ai daqueles que vivem nos castelos de alvoradas e deixam o povo morrer de fome por não adotar uma administração que solidariamente partilhe alimento para todos.

 O destino de uma administração voltada para o banquetear-se dos ricos (E do 25DTC-C) é a morte e a condenação da idolatria da riqueza. O tema de Lázaro ao lado de Abraão, não deve transformar a parábola de Jesus em “ópio social”, em uma anestesia para dizer: fiquem pacientes e tranquilos porque na outra vida acontecerá o oposto. A mensagem da parábola não é anestésica e nem é para o outro mundo. É uma parábola que fala para o nosso “agora”: a fome do pobre é real e o administrador (governador) que tendo riqueza rico e não partilha seus bens está em pecado de egoísmo. É um quadro que convida a administrar a sociedade com solidariedade e não com interesses que agridem a vida do povo, especialmente a vida dos mais pobres.

 
Conclusão 
Como se vê, as celebrações do Mês da Bíblia, abrem as páginas proféticas da Sagrada Escritura para propor uma administração política e social para valorizar a vida, especialmente a vida dos mais pobres, e não para defender ideologias ou políticas públicas interesseiras, que usam o povo em benefício próprio.

Serginho Valle 
Julho de 2022