Construtores e construtoras da paz

27 de Maio de 2022


Pedagogia mistagógica de junho 2022 

 

 

 
Construtores e construtoras da paz

O tema da PAZ, neste mundo envolvido em tantas guerras, não é apenas oportuno, mas uma necessidade para favorecer nos celebrantes o contato com a fonte da paz: Jesus Cristo. Nele encontra-se a paz (Jo 16,33), é Jesus que nos oferece a sua paz, não aquela paz que vem do mundo, mas a paz que vem do Coração divino (Jo 14,27).
 
O foco da pedagogia mistagógica de junho 2022, como proposto no título, encontra-se na bem-aventurança dos construtores e construtoras da paz: “Bem-aventurados os construtores da paz porque serão chamados de filhos de Deus” (Mt 5,9). A variação de traduções deste versículo também se mostra interessante para compreender a identidade de filhos e filhas de Deus por serem construtores da paz. Algumas versões dizem “bem-aventurados os pacificadores”, na Bíblia da CNBB, lemos “felizes os que promovem a paz”. Seja de um modo ou de outro, constata-se que a paz não é algo espontâneo, mas que precisa se construída, que é necessitada de um processo, de uma promoção. A paz, para acontecer, precisa ser construída e, logicamente, precisa de construtores e construtoras. E, quem se dedica a construir a paz tem a identidade revelada por Jesus de filho e filha e de Deus.
 
A filiação divina, como toda filiação, traz o DNA divino que, no nosso caso, no contexto mistagógico das celebrações de junho 2022, tem a ver com os pensamentos, com o coração e com atitudes. Os filhos e filhas de Deus construtores da paz pensam como Deus, cujos pensamentos são de paz e não de aflição (Jr 29,11). O coração divino, manifestado pelo Coração de Jesus, é manso, quer dizer, pacífico (Mt 11,29) e os comportamentos dos construtores da paz promovem a fraternidade e a unidade (Ef 4,3).
 
A Teologia e a espiritualidade da paz, como é possível perceber nas breves menções relacionadas a uma Teologia e uma espiritualidade ativa, tem a ver com construção ou, como também aludido, a um processo dinâmico. A paz é um dom que precisa ser acolhido, na vida pessoal e na comunidade, para ser cultivado em vista de produzir frutos. Vale aqui o conselho do salmista: “evita o mal e faze o bem, busca a paz sem desistir” (Sl 34,15). A paz, portanto, é um contexto existencial a ser cultivado e construído.
 
As celebrações de junho, iluminadas na PAZ, oferecem elementos da construção da paz, ou, na expressão desafiadora do salmista, incentivo para se buscar a paz a todo momento. Nas celebrações de junho, a fonte da paz aparece na ternura misericordiosa de Deus (Santíssima Trindade), é proposta para ser construída pela partilha fraterna do pão (Corpus Christi) e é sempre alcançada pela modelagem do coração humano no cuidado do Bom Pastor em busca da vida perdida (Sagrado Coração de Jesus).
 
O conceito de paz como equilíbrio de forças nunca é sustentável e jamais poderá produzir a paz. Não existe paz convivendo com ameaças, porque a paz é a negação do medo e onde imperam as ameaças, ali se vive no medo e na insegurança. O caminho da paz consiste em se revestir dos mesmos sentimentos de Jesus assumindo a cruz do discipulado (12DTC-C) e não compactuando com nenhum tipo de violência; em vez da violência, iluminar a vida no Mandamento do Amor (13DTC-C).
 
 
Construção da paz nas celebrações teológicas
No mês de junho 2022 temos três celebrações consideradas teológicas. Recebem este nome porque não fazem memória de nenhum Mistério da Salvação, do ponto de vista histórico, como a Páscoa, o Natal, a Ascensão de Jesus... como é normal na Liturgia. São celebrações que se remetem a algum Mistério da Fé, como é o caso da Solenidade da Santíssima Trindade, que é a fonte da Salvação; a celebração de Corpus Christi, que se remete ao Mistério da Instituição da Eucaristia e a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que celebra a misericórdia divina em favor da humanidade.
 
Solenidade da Santíssima Trindade
Na proposta do SAL – Serviço de Animação Litúrgica, a Solenidade da Santíssima Trindade é celebrada como a fonte da paz. Entende-se que os celebrantes são convidados a compreender que a paz é dom divino, é graça e, para que a paz aconteça, é necessário entender que a paz é fruto do amor divino. Por isso, envolvidos por guerras e ameaças violentas contra a vida, a Solenidade da Santíssima Trindade acende nos celebrantes a necessidade de interceder o dom da paz que habita na fonte do amor eterno: a Trindade Santa.
 
A Palavra que celebra a Santíssima Trindade fala da sabedoria divina passeando na criação. Toda a criação divina é sacramento da paz; contemplar a criação é um exercício lúdico que produz alegria e paz (1L - Santíssima Trindade). Isto é muito bem resumido por São Paulo, na expressão, “estamos em paz com Deus” (2L - Santíssima Trindade). Viver em Deus é viver na paz, é tornar-se contagiado pela paz divina, é se deixar conduzir pelo Espírito Santo para que torne nossos corações pacificados e pacíficadores.
 
Solenidade de Corpus Christi
O coração humano que acolhe o dom da paz tornando-se morada do Espírito Santo, como celebrado na Solenidade da Santíssima Trindade, não se fecha no mundinho dos egoístas, mas atua na partilha do pão e da vida. O cultivo da paz acontece onde se cultiva a partilha fraterna do pão e da vida. As guerras e as violências são frutos de corações medíocres que, no egoísmo, são incapazes de partilhar.
 
Por isso, pedagógica e mistagogicamente, a Eucaristia é uma escola de vida e para a vida que educa os celebrantes para a paz. Educa os celebrantes a viver como construtores da paz servindo-se da cartilha do acolhimento (1L – Corpus Christi), da ação de graças (2L – Corpus Christi) e da partilha do pão (E – Corpus Christi). Adota aquela bela Palavra da Campanha da Fraternidade: na escola da Eucaristia, a Igreja  “fala com sabedoria e ensina com amor.” Ensina que a paz se constrói pela partilha do pão e não destruindo vidas. O outro, no olhar de Jesus, não é inimigo e nem concorrente, mas um irmão, um irmã a ser acolhido para ser alimentado com pão que sacia a fome e com o abraço da amizade. A Solenidade de Corpus Crhisti - C ensina que a paz não se constrói com muito dinheiro, mas pela abundância da partilha, mesmo que seja pobre e pouco o que se partilha.
 
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus
As duas Solenidades, da Santíssima Trindade e de Corpus Christi, exigem um requisito básico: para se cultivar a paz é preciso ter um coração semelhante ao Coração divino. No início da Bíblia, Deus percebe que o coração humano é tendencioso ao mal (Gn 6,5-6). É o que vemos neste tempo tão fragilizado e tão exposto à destruição da vida pela violência e por guerras. Se o caminho da paz começa no nosso coração, é empenho pessoal modelar o nosso coração humano no Coração do Bom Pastor, para que se torne responsável pela vida do outro, que é irmão e irmã, como faz o Bom Pastor na busca da ovelha perdida (E - SCJ).
 
A solenidade do Sagrado Coração apresenta Jesus com o coração de um Bom Pastor. Um pastor bondoso que, por causa da bondade, é responsável pela vida do outro. A bondade consiste em se responsabilizar pelo outro para que ele possa viver. Este é o comportamento do Bom Pastor, este é o comportamento de quem se empenha pela paz. Não coloca armas na mão para se defender, deixa tudo para defender a vida. A atividade do Bom Pastor, de deixar tudo para ir em busca da vida perdida, é um caminho difícil da construção da paz. É o empenho da construção da paz retirando vidas do caminho de violências para caminhar nos caminhos da paz.  
 
 
Domingos do Tempo Comum – C
No mês de junho 2022 acontece a retomada das celebrações do Tempo Comum, depois de Pentecostes. São dois Domingos do Tempo Comum: o 12DTC-C e o 13DTC-C. Dois Domingos marcados com celebrações orientadas para o discipulado, convite para que os celebrantes se tornem discípulos e discípulas de Jesus, caminhantes na estrada do Evangelho.
 
12DTC-C
No 12DTC-C, Jesus interroga seus discípulos sobre sua identidade. Pedro responde que Jesus é o Messias de Deus (E – 12DTC-C) mas, segundo os especialistas em Bíblia, a mentalidade de Pedro ainda poderia ser aquela de um Messias guerreiro, político e dominador dos inimigos.
 
Conhecemos a identidade de Jesus não como o Messias guerreiro e dominador pela violência, como esperava o povo. Ele é o Messias que anuncia a Boa Nova da Salvação e convida seus discípulos e discípulas a segui-lo com a cruz do discipulado. O discípulo e discípula de Jesus é um sedento da vida de Deus (SR – 12DTC-C); tem sede de Deus. É uma bela imagem do construtor da paz: aquele que tem sede da paz porque esta se encontra plenamente em Deus. São Paulo diz que todo discípulo e discípula que caminha na estrada de Jesus convive com o Mestre e nesta convivência ele se reveste dos mesmos sentimentos de Jesus (2L – 12DTC-C). É com os sentimentos de Jesus que nos tornamos construtores da paz.
 
13DTC-C
Por fim, o último Domingo de junho 2022 chama atenção dos celebrantes para um dado facilmente deduzido: a construção da paz, como proposto em todas as celebrações desse mês de junho 2022, não acontece pela força da violência. Jesus não reage com violência diante de uma sociedade que se recusa aceitá-lo; ele simplesmente continua semeando as sementes do Evangelho (E – 13DTC-C).
 
O construtor da paz sempre vai encontrar barreiras, agressões e expulsões, mas jamais reage com a força da violência. Paz e violência jamais se conjungam na mesma conjugação; são opostos. A construção da paz não acontece pela destruição de quem se recusa a pensar como penso, se recusa a viver o Evangelho, destruindo aquela sociedade que não aceita Jesus e o seu Evangelho. Jesus respeita a recusa do outro e a recusa de todo o povoado (E – 13DTC-C). No último Domingo de junho 2022, os construtores da paz aprendem que precisam aprender a lidar pacificamente com a recusa da paz.
Conclusão
Essa é a proposta do SAL – Serviço de Animação Líturgica para o mês de junho 2022. O tema da paz, como sugerido no início desta pedagogia mistagógica, é uma necessidade a ser refletida e celebrada em nossas comunidades. Celebrar a vocação que nós, cristãos e cristãs, temos como construtores da paz modelando nossos corações no Coração manso e humilde de Jesus e caminhando nas estrada de Jesus, no caminho do discipulado, que sempre é caminho dos construtores e construtoras da paz.
Serginho Valle
maio de 2022