Pedagogia litúrgica de novembro 2021

30 de Outubro de 2021


 Pedagogia de novembro 2021

As celebrações litúrgicas dominicais de novembro 2021 se caracterizam pelo apelo à grande vocação cristã: a santidade. É a vocação original, recebida no Batismo, com condições de ser realizada pela confirmação do Espírito Santo de Deus em nossas vidas, conferida no Sacramento do Crisma, e alimentada especialmente na Eucaristia. Os Sacramentos da Iniciação Cristã são sacramentos destinados à santidade, sacramentos que possibilitam ao cristão participar da santidade divina. Isto aparece de modo mais evidente nas últimas celebrações do Ano Litúrgico em forma de convite para avaliarmos como estamos correspondendo à vocação da santidade que recebemos de Deus, no início de nossa vida cristã.
 
Santidade e acolhimento do Espírito Santo
As duas primeiras celebrações de novembro posicionam-nos diante de uma responsabilidade pessoal para conosco e para com Deus. A Comemoração dos Fiéis defuntos coloca-nos diante da realidade da morte, pela qual todos passaremos. Uma realidade que se tornou ainda mais cruel com dois anos de pandemia. Celebração com forte acento pedagógico para colocar cada celebrante diante da realidade da própria existência. Por mais cruel que tenha sido o aprendizado, a pandemia alertou para a fragilidade da vida, desafiando-nos a não viver de qualquer modo, mas viver com um sentido existencial, que se encontra na promessa de Jesus: viver em Deus, participando da santidade divina para ressuscitar e viver eternamente.
Ninguém investe em sentido de vida projetando-se na morte. Isto seria uma loucura, uma atitude sem sentido. Jesus projeta o sentido da vida na eternidade, na vida eterna, que pertence unicamente a Deus. Só Deus é eterno e só ele pode oferecer a vida eterna. Eis um sentido de vida pelo qual vale a pena viver.
A Solenidade de todos os Santos e Santas faz esta proposta de vida: acolher a santidade divina pelo acolhimento do Espírito Santo na vida pessoal. É uma proposta de vida radical, que exige viver em meio às tribulações do mundo sem ceder ao medo de andar contracorrente, sem ceder ao respeito humano, sem fraquejar na fé até receber a veste branca e a coroa da vitória. O Evangelho das Bem-aventuranças, proclamado na Solenidade de Todos os Santos e Santas, é um antídoto contra a idolatria, que sempre afasta de Deus. Cada bem-aventurança se opõe um caminho de idolatria e, por isso se opõe a viver na escravidão. A santidade, nesta compreensão, é o modo mais sereno e mais livre que alguém pode viver na terra, mesmo envolvido por tribulações.
 
Opção radical pelo Reino de Deus
A santidade é o modo natural do cristão viver, porque o modo natural da vida cristã consiste de viver em Deus, viver envolvido na santidade divina. Se Deus é santo, o cristão e a cristã vivem participando da santidade divina. O 33DTC-B desenha um cenário de desafios, não para incutir medo nos celebrantes, mas para questionar como cada um de nós, cristãos e cristãs, nos relacionamos com o mundo. A Palavra do 33DTC-B, caracterizada pelo estilo apocalíptico, não faz revelações futurísticas; facilmente constata-se que aquilo que Jesus diz está acontecendo em nosso hoje. Ele apresenta a realidade do nosso mundo, que se autodestrói, que ameaça a vida pessoal, que deteriora a natureza e arruína o projeto da criação de ser um paraíso para o homem e mulher viverem em harmonia.
A Palavra do 33DTC-B não é pessimista; é altamente realista ao dizer que tudo passa e que este mundo no qual vivemos tende a terminar; vai acabar. Diante de tal realidade, a proposta de Jesus convida a fortalecer o sentido da vida na Palavra de Jesus, que sempre é Palavra de vida eterna (Jo 6,68).
 
No caminho da santidade tomar posição diante da verdade
Diante de Jesus todos devemos tomar posição a partir da verdade. Diante da Palavra de Jesus a vida de cada ser humano é iluminada pela verdade. É uma Palavra que determina o destino da nossa existência a partir da verdade. Neste sentido, o julgamento de Jesus, proclamado na Solenidade de Cristo Rei, é o retrato vivo do julgamento de toda a humanidade que recebeu a Palavra definitiva de Deus, recebeu a Verdade de Deus, recebeu o projeto divino de Deus, mas nem todos o acolheram, como lembra São João no prólogo do seu Evangelho (Jo 1,9-10).  
No julgamento de Jesus, a humanidade é representada por Pilatos, proposto na condição de juiz humano que julga Deus. Jesus não disputa o poder com Pilatos, mas não se cala para dizer que o seu Reino, quer dizer a sua proposta de vida, é diferente. Novamente, podemos nos remeter ao prólogo de São João: nela estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4). O que Pilatos faz quando julga Jesus? O que cada celebrante faz quando julga Jesus relegando a verdade e desprezando a vida? O que a humanidade, envolvida em tantos poderes de morte, faz com Jesus com seus diferentes julgamentos? Estes são questionamentos pertinentes para acordar os celebrantes diante de tantos julgamentos camuflados contra a verdade do Evangelho. O caminho da santidade exige tomar posição diante da única Verdade: Jesus Cristo!
 
A espiritualidade iluminada pela esperança
Na proposta pedagógica presente nas celebrações de novembro 2021, sugerimos conduzir os celebrantes a tomar contato com a vocação à santidade, a qual todos somos chamados. Nossa vida terrena é um tempo para vivermos a vocação à santidade, acolhendo o Espírito da santidade divina em nossas vidas. Tempo para aprender a ouvir a voz do Espírito Santo que recebemos no Batismo e nos conduz no caminho da santidade, no caminho da vida eterna, numa realidade existencial que vai terminar. É o que rezamos em todas as Missas, no rito da absolvição do ato penitencial: “e nos conduza à vida eterna”. Num mundo que acabará, somos conduzidos à vida eterna, a vida que pertence unicamente a Deus e que dela podemos participar pela santidade de vida.
A Palavra do 33DTC-B coloca os celebrantes em contato com a realidade de um mundo que é perecível, mas teima em julgar Deus e condenar a Palavra do Evangelho ao esquecimento (Cristo Rei). A proposta de sentido de vida na santidade, presente nas celebrações, não tem nada de ingênua, de religiosidade emotiva; tem sim, muito realismo e, com ele, a necessidade de fortalecer a vida com a espiritualidade da virtude da esperança, celebrada no início do Advento, no 1DTA-C.
Quando sabemos o que esperamos então determinamos o modo de esperar. Quando não sabemos o que esperamos e, pior que isso, quando nem mesmo sabemos se esperamos alguma coisa, então se vive de qualquer jeito. O início do Tempo do Advento profetiza o que nós esperamos: a volta de Jesus Cristo. Um tempo marcado pela espiritualidade que se ilumina com a esperança. Para nós, cristãos e cristãs, a esperança não é um sentimento positivo, uma espécie de pensamento positivo; a esperança cristã é uma pessoa: Jesus Cristo. No meio de tantas crises, envolvidos em tantas ameaças à vida, nós permanecemos firmes porque sabemos em quem colocamos nossa esperança, como cantamos e rezamos como salmista do Sl 39,7.
Serginho Valle
Setembro de 2021