Pedagogia Litúrgica de outubro 2021

25 de Setembro de 2021


Pedagogia litúrgica de outubro 2021

 
As celebrações do mês de outubro, do ponto de vista pedagógico, propõem o relacionamento dos discípulos e discípulas de Jesus em quatro diferentes momentos existenciais: na vida matrimonial, consigo mesmo, com a comunidade e com a fragilidade humana. Um tema que as propostas celebrativas do SAL - Serviço de Animação Litúrgica inserem no contexto histórico da pandemia com as crises que dela foram derivadas.
Outro contexto é considerar o mês de outubro como parte da trilogia dos meses temáticos, juntamente com agosto e setembro. Mês dedicado às missões como convite e proposta para refletir sobre a missão da Igreja na sociedade. Refletir sobre a missão da Igreja é refletir sobre um dos polos da essência do apostolado eclesial: a missão de ir pelo mundo e evangelizar como continuadora da obra de Jesus Cristo.
A intenção das orações de Papa Francisco, para o mês de outubro, intercede a graça que cada batizado seja testemunho de um relacionamento fraterno, com o "sabor do Evangelho". É uma luz para compreender o compromisso existencial da vida cristã presente na dimensão pedagógica das celebrações litúrgicas. Os celebrantes assumem o compromisso de serem missionários e missionárias colocando em seus relacionamentos o sabor do Evangelho. Isto é iluminado e incentivado pelo Mandamento do Amor (31DTC-B).
 
Relacionamento do discípulo e discípula de Jesus com situações existenciais
Como mencionado na introdução, do ponto de vista pedagógico, as celebrações conduzem os celebrantes a avaliar seu relacionamento em quatro situações: na vida matrimonial, consigo mesmo, com a comunidade e com a fragilidade humana. Todos os relacionamentos encontram na última celebração do mês (31DTC-B) a motivação e o fundamento de todos os relacionamentos: o Mandamento do Amor. Por questão didática, seguiremos a sequência dos Domingos de outubro mencionando o contexto celebrativo proposto pelo SAL - Serviço de Animação Litúrgica para cada celebração.
 
Relacionamento na vida matrimonial (27DTC-B)
O discípulo e discípula de Jesus Cristo que acolhem a vocação matrimonial são convidados a acolher o outro como ele é e não como gostaria que fosse. O acolhimento do outro, no relacionamento matrimonial, é a condição para não haver o endurecimento do coração. Para Jesus, o endurecimento do coração é a causa do divórcio entre os casais. O Mandamento do Amor é um caminho de acolhimento, de aceitação e de perdão (31DTC-B). Por isso, a dureza de coração impede considerar a vocação matrimonial como chamado para construir e viver a vida a dois. Quando existe um relacionamento de imposição de uma das partes, o coração começa a ficar endurecido e a sombra do divórcio passa a minar, a debilitar a vida do casal. O Mandamento do Amor (31DTC-B) propõe a necessidade do acolhimento e, com isso, entende-se também a importância de um relacionamento iluminado pela compreensão e pelo perdão.
 
Relacionamento consigo mesmo (28DTC-B)
O sentido da vida, o motivo pelo qual cada um de nós vive é a segunda proposta de relacionamento proposto nas propostas celebrativas do SAL - Serviço de Animação Litúrgica. A pergunta de fundo interroga-nos qual luz ilumina a vida da gente: quais valores, que estilo de vida estou adotando para mim, em qual caminho estou colocando minha existência...? A celebração do 28DTC-B coloca-nos diante desses questionamentos para propor a busca da sabedoria divina presente na Palavra de Deus. As leituras do 28DTC-B definem a Palavra de Deus como uma espada cortante que penetra até a profundidade do coração. Um modo de dizer que quando confrontamos nosso relacionamento conosco mesmo, iluminando-o com a luz da Palavra de Deus, não existe espaço para a mentira ou para o fingimento. Para nós, cristãos, este confronto acontece pelo desapego a tudo que pode oferecer segurança no mundo, principalmente o dinheiro que, ilusoriamente, passa a sensação de poder comprar tudo, até mesmo o sentido da vida.
 
Relacionamento com a comunidade (29DTC-B)
Depois do relacionamento a dois, na vida matrimonial (27DTC-B), do relacionamento consigo mesmo (28DTC), o relacionamento com a comunidade. A Palavra do 29DTC-B coloca os celebrantes diante do poder social e o modo como o cristão e a cristã compreendem o poder. Novamente, o Mandamento do Amor (31DTC-B) ilumina a compreensão de como se relacionar evangelizadoramente na comunidade: pelo serviço. O relacionamento cristão com a comunidade, especialmente daqueles que ocupam alguma atividade pastoral, não se qualifica pelo poder de quem manda, mas daquele que se coloca a serviço para o bem de toda a comunidade. Ou seja, quem assume algum tipo de liderança na comunidade não recebe o cetro de um rei, mas o avental do lava-pés. Isto pode ser constatado no modelo de relacionamento que Nossa Senhora tinha com a comunidade, proclamado na Palavra da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, no qual a Mãe de Jesus é apresentada como servidora da comunidade e da família.
 
Relacionamento com a fragilidade humana (30DTC-B)
Por fim, o quarto modelo de relacionamento, é aquele que nos coloca em contato com as fragilidades humanas. É um contato extremamente pertinente neste momento histórico que vivemos, seja pela pandemia seja pelas crises sociais e políticas que dela derivaram. As fragilidades humanas, de toda sorte, tendem a cegar as pessoas. Por isso, como acontece no encontro de Jesus com Bartimeu, o relacionamento cristão com as fragilidades humanas conduz a ser um relacionamento com pessoas que vivem em estado de cegueira. Diante disso, a necessidade de levar as pessoas ao encontro da luz que Jesus oferece (30DTC-B). Jesus é tido como "photósforo", o portador da luz, aquele que tem uma luz existencial para oferecer, capaz de abrir os olhos aos cegos.
Encontrar-se com a fragilidade humana é propor aos fragilizados uma luz e o consolo divino que vem ao encontro do povo. Neste aspecto, também se considere a proposta celebrativa da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida; no contexto da espiritualidade mariana, ir ao encontro dos fragilizados "que não tem mais vinho", que perderam o sabor da vida, perderam o gosto, o sabor da viver. Maria apresenta Jesus com sua Palavra, com seu Evangelho, iluminador: "façam tudo que ele vos disser" (Solenidade de Aparecida).
 
Conclusão
A conclusão desta pedagogia litúrgica do SAL - Serviço de Animação Litúrgica, fundamenta-se na celebração do 31DTC-B que proclama o Mandamento do Amor como centro da vida cristã. Este 31DTC-B quase não é celebrado na maior parte das comunidades católicas do Brasil porque cede lugar à celebração de todos os Santos e Santas. Acolhamos isto como uma graça porque ajuda-nos a refletir que todos os relacionamentos da vida cristã não apenas se inspiram no Mandamento do Amor, mas nele se fundamentam.
Sendo assim, nada mais justo que celebrar o 31DTC-B como momento para retomar, em forma de síntese, todas as celebrações de outubro e celebrar este 31DTC-B como fundamento do projeto missionário de Jesus Cristo que, por amor, não veio para ser servido, mas para servir (29DTC-B). A atividade missionária é um serviço que encontra no Mandamento do Amor sua fonte e sua inspiração.
Serginho Valle
Julho de 2021