Pedagogia litúrgica do mês de fevereiro 2021

29 de Janeiro de 2021


 Pedagogia de fevereiro 2021

O mês de fevereiro contempla três temas de grande importância na vida da Igreja, na sociedade e na vida pessoal: o sofrimento humano em tempo de pandemia, o convite para entrar em contato com a vida pessoal e a importância da fé como confiança inabalável em Deus. Do ponto de vista da Pastoral Litúrgica, a pedagogia considera o final da primeira parte do Tempo Comum e o início da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas.
 
Espiritualidade em tempo de sofrimento
Os dois primeiros Domingos de fevereiro (5DTC-B e 6DTC-B) colocam os celebrantes, em estágios diferentes, em contato com o sofrimento humano. Um tema pertinente em tempo de pandemia, quando o sofrimento foi tocado com a mão. A proposta da espiritualidade em contato com o sofrimento humano sugere vários caminhos, como por exemplo, a espiritualidade do enfermo, a espiritualidade da Pastoral da Saúde, a espiritualidade em tempo de pandemia. A figura sofredora e depressiva de Jó, favorece o incentivo para se desenvolver a espiritualidade com quem vive deprimido (5DTC-B). Aliás, a espiritualidade é, em si mesma, uma energia forte na recuperação e na estabilidade do depressivo.
Depois, a Liturgia introduz os celebrantes na riqueza espiritual da Quaresma. A Liturgia quaresmal, desde tempos remotos, é uma escola de espiritualidade, especialmente marcada pela dinâmica de conduzir ao deserto, propondo o crescimento da vida espiritual pelo silêncio.
Mas, tem outros dois detalhes que merecem ser considerados no contexto histórico de início de 2021. O primeiro detalhe, está na espiritualidade da Quarta-feira de Cinzas. "Lembra-te que és pó", diz a antiga fórmula da imposição das cinzas. Uma lembrança espiritual da vulnerabilidade humana, que é pó, que é terra e que à terra voltará. O que pode soar pessimismo em certos conceitos sociais, soa como realidade humana diante da misericórdia divina.
O segundo elemento é a espiritualidade como fortalecimento diante das tentações. É um tema conhecido, repetido, e sempre necessário. O caminho da espiritualidade nem sempre é tranquilo. As tentações se multiplicam e nem sempre é fácil se manter firme e estabilizado espiritualmente. O 1DTQ-B propõe os exemplos de Noé e de Jesus como vencedores da tentação por cultivarem a intimidade com Deus. Nesta mesma sintonia, o 2DTQ-B propõe a fé como confiança inabalável em Deus. Abrão é apresentado como modelo da fé; tanto confia em Deus, que se dispõe a sacrificar seu filho Isaac. Jesus é apresentado como modelo de fé: tanto confia em Deus que aceita a vontade divina sabendo que Deus não o deixará esquecido na sepultura, mas o transfigurará com a luz da Ressurreição (6DTQ-B).
 
Vida pessoal
O primeiro contato com a vida pessoal passa pelo sofrimento. O tempo da pandemia obrigou os celebrantes a tomar contato com o sofrimento. Mesmo quem não estava habituado a isso, foi obrigado a conviver com o sofrimento ameaçador da vida. Por ser ameaça silenciosa, o sofrimento psicológico também aparece em proporções de agressividade pessoal. Para muita gente, foi tempo para aprender a entrar em contato com o sofrimento pessoal e com o sofrimento de outras pessoas. Perceber que toda ciência e tecnologia não são capazes de evitar o sofrimento e a morte. Disso, a importância para aprender a silenciar e considerar nossos limites e vulnerabilidades.  
Quem foi capaz de fazer experiência do sofrimento e conseguiu ultrapassar a barreira do medo, tem condições de acolher o convite que a profecia de Joel faz na Quarta-feira de Cinzas para se aproximar de Deus rasgando o coração. Colocando Deus no centro da vida porque ele consola e cuida de quem está ferido. É uma proposta que exige penitência em vista da mudança de vida. Tirar de dentro de si o espírito da arrogância e colocar o Espírito de Deus, que conduz a vida em caminhos de paz.
 
Inspirando a pastoral
As celebrações de fevereiro, do ponto de vista pastoral, inspiram particularmente a Pastoral da Saúde e, como dizia acima, a proposta de uma pastoral específica com os deprimidos. Uma pastoral que adquire ares de urgência, especialmente neste período de pós-pandemia.
É tempo igualmente para fortalecer — ou criar — a Pastoral da Espiritualidade. Uma proposta que pode ser considerada com carinho no Tempo da Quaresma. A maior parte do nosso povo é carente de um acompanhamento espiritual e muitos sequer imaginam o que significa o caminho da espiritualidade, o caminho da vida interior. Isto poderá ser feito servindo-se da catequese catecumenal, que caracteriza o tempo da Quaresma.
Pastoralmente falando, não podemos deixar de considerar a Campanha da Fraternidade 2021 com o tema de "Fraternidade e Diálogo". Nas nossas propostas celebrativas, estamos propondo refletir a Campanha da Fraternidade 2021 iluminando-nos com a leitura da Encíclica de Papa Francisco "Fratelli Tutti".
Serginho Valle
Janeiro de 2021