Pedagogia de novembro 2020

24 de Outubro de 2020


Dimensão espiritual

A pedagogia litúrgica proposta para o mês de novembro fundamenta a sua espiritualidade no confronto sincero com a vida pessoal. A Liturgia coloca os celebrantes diante de suas vidas convidando-os a avaliar o modo de viver à luz da Palavra de Deus. Inicia apresentando a vida dos santos e santas como modelos de vida cristã, homens e mulheres que iluminaram suas vidas nas Bem-aventuranças (Todos os santos e santas) e, ainda em termos de exórdio, propõe a fragilidade da vida humana, neste ano clamando para que Deus alivie a angústia do coração humano, envolvido pelo drama da Covid 19.

            O sentido da vida humana encontra-se na sabedoria divina. Feliz é aquele e aquela que vivem de acordo com os Mandamentos divinos, porque serão guiados pela sabedoria do próprio Deus (32DTC-A). Prudente e vigilante é aquele que cultiva a sabedoria divina, apresentada no simbolismo dos talentos, para render ainda mais vida e favorecer a qualidade da vida (33DTC-A). Aqui está um caminho da espiritualidade cristã: viver iluminado pela sabedoria divina e multiplica-la na sua existência.

            Modelo de investimento na vida, de cuidado da vida é atitude típica de Deus representada no simbolismo do Bom Pastor (Cristo Rei). A espiritualidade cristã é uma dinâmica a favor da vida. Quem vive espiritualmente em contato com Deus, age como Deus, dedica-se a favor da vida como Deus, qual Bom Pastor cuidando da saúde do seu rebanho.

            A dimensão espiritual da pedagogia litúrgica de novembro 2020 considera ainda o início do Advento, com a sua conhecida espiritualidade da esperança suplicante. É o retrato espiritual de uma Igreja intercessora da vinda do Senhor para renovar a humanidade.

 

 

 

Dimensão existencial concreta

A pedagogia litúrgica de novembro 2020 compromete os celebrantes com o desafio da vocação batismal: a santidade. Celebrar a Solenidade de todos os Santos e Santas é se comprometer com a vocação pessoal à santidade, vivendo como Jesus e tendo os mesmos sentimentos de Jesus (Fl 2,5), expressos nas Bem-aventuranças. Um modo concreto para exercitar a solidariedade, tendo os mesmos sentimentos de Jesus, é a solidariedade espiritual e fraterna com quem vive no luto provocado pela Covid 19. É a proposta concreta de chorar com quem chora (Rm 12,15), de oferecer o apoio espiritual e a ajuda solidária a quem está vivendo o luto.

O compromisso concreto como resposta à vocação batismal da santidade não limita a vida cristã a passar o tempo rezando, como erroneamente se diz da vida dos santos e santas. Claro que os santos e santas rezam muito, mas rezam com uma oração que os compromete na fraternidade. O Evangelho da Solenidade de Cristo Rei coloca esta dimensão fraterna de socorro à vida de quem está faminto, sedento, enfermo... A sabedoria da vida cristã, não consiste em conhecimentos religiosos, mas em compreender e saborear o essencial da vida (32DTC-A). Isto só se consegue iluminando-se na sabedoria divina.

Concretamente, significa olhar e entender a vida a partir dos critérios divinos. E quando isso acontece, a vida se torna rentável (33DTC-A). A pedagogia de novembro 2020 compromete os celebrantes a serem produtivos e multiplicadores de mais vidas, como diz a parábola dos talentos (33DTC-A). Compromete a cuidar da vida como o Bom Pastor cuida de suas ovelhas (Cristo Rei).

 

Pastorais envolvidas

Por fim, as pastorais envolvidas nas celebrações do mês de novembro 2020. A primeira delas é a Pastoral da Espiritualidade. É uma pastoral com objetivo de fomentar a vida espiritual na comunidade. No contexto da pedagogia litúrgica de novembro 2020, as Bem-aventuranças, que fotografam a espiritualidade de Jesus, se apresentam como fundamento espiritual da vida cristã autêntica. É a Pastoral da Espiritualidade que incentiva também a viver na esperança suplicante da 2ª vinda do Senhor (1DTA-B).

A Pastoral da Esperança, como é conhecida em muitas comunidades, é sugerida pela celebração da Comemoração dos Fiéis Defuntos. Uma pastoral a ser exercida como presença solidária espiritual e com a presença solidária fraterna. Consolar os que choram no luto é uma obra de misericórdia que a pedagogia litúrgica deste mês convida a exercer como atividade pastoral.

Outra pastoral sugerida pela pedagogia de novembro 2020 é a Pastoral Bíblica e a Pastoral da Catequese enquanto atividade de favorecer os celebrantes a cultivar a sabedoria divina em suas vidas. Fazer ecoar a Palavra na vida dos celebrantes propondo e ensinando uma metodologia de contato com a Palavra é uma necessidade pastoral de primeira urgência em nossas comunidades.

O Evangelho da parábola dos talentos (33DTC-A) chama atenção para a atividade pastoral por meio dos ministérios. Toda a atividade pastoral se exerce por meio de serviços, de ministérios. Investir comunitariamente na formação de ministérios é investir em talentos, em multiplicar serviços. Dedicar-se ao cultivo de talentos, do ponto de vista comunitário, é multiplicar a quantidade de serviços pastorais a favor da vida. Este é o melhor modo de evangelizar. Comunidades paradas são a imagem daquele servo que enterra o talento (33DTC-A). Multiplicar tem a ver com investir, tem a ver com formação, com qualidade de serviço, com capacitação para fazer render e produzir.

Por fim, a última proposta de reflexão pastoral, do ponto de vista comunitário, tem a ver com o fundamento da pastoral na vida da Igreja. Está presente na Solenidade de Cristo Rei com a apresentação do Bom Pastor. É a descrição daquele que se dedica e cuida da vida das ovelhas. Não como mercenário, interessado no lucro, mas porque ama as ovelhas. A Pastoral na Igreja não é atividade lucrativa, mas serviço amoroso e cuidadoso da vida, como faz e como vive o Bom Pastor. Quem faz pastoral para ganhar dinheiro é mercenário.

Serginho Valle 
Setembro de 2020