Perdoar e crer

29 de Agosto de 2020


 Perdoar e crer

 A pedagogia litúrgica de setembro considera dois temas: perdão e fé atuante. O perdão aparece nos dois primeiros Domingos de setembro, 23DTC-A e 24DTC-A. O tema da fé atuante nos dois últimos Domingos de setembro: 25DTC-A e 26DTC-A.
Sendo setembro mês temático, dedicado à Bíblia Sagrada, a vivência do perdão e o empenho para atuar e trabalhar na vinha do Senhor serão relacionados e compreendidos como apelos da voz da voz divina presente no Livro Santo, que fala em nossas assembleias.
 
Perdão, medida do amor
A dinâmica do perdão é imprescindível na vida cristã. Deus é apresentado, em toda a Sagrada Escritura, como Deus perdoador. Perdoa porque é misericordioso, compassivo, sabe que somos vulneráveis e caímos no pecado. Deus, diz a Bíblia, sente-se ofendido pelo pecado. Para Deus, contudo, o mais importante não é a ofensa feita a ele e sim o que o pecado causa em nossas vidas: o perigo da morte, o risco de perder a vida. Disso, a atitude fraterna de ajudar o outro a não cair no pecado. O 23DTC-A diz que não somos juízes do outro para julgar se ele está ou não caminhando em estradas da vida, mas responsáveis para que o outro não entre no caminho da morte. Isto faz compreender que o pecado não se caracteriza como atitudes de atos isolados, mas como modo de viver. De onde a importância de ser fraterno e, fraternalmente, alertar o irmão ou a irmã que caminha no pecado, que vive longe do projeto divino, ajudando-o a caminhar no caminho do Senhor, que é caminho de vida.
O cuidado para que o outro não entre no caminho do pecado, que é sempre caminho de morte (23DTC-A), não nos faz melhores e nem juízes dos outros; torna-nos fraternos, próprio de quem vive a altura do Evangelho. Ou seja, vive com os mesmos sentimentos divinos para com quem me ofendeu. O 24DTC-A propõe a parábola do juiz que perdoa a dívida impagável de um servo e o mesmo servo não é capaz de perdoar uma dívida de centavos de um devedor seu. É inspiração para entendermos o Pai nosso como modo de viver: perdoar as ofensas, perdoar a dívida de amor de quem me ofendeu. Entende-se que só consegue perdoar, só consegue ser perdoador, quem tem muito amor no coração, porque somente o amor nos faz fraternos. O perdão, portanto, é um gesto de fraternidade é uma atitude fraterna.
 
A vinha do Senhor
No mês de julho, nossas celebrações foram iluminadas pela trilogia do Reino. A mesma trilogia temática retorna nas duas últimas celebrações de setembro. Se na primeira trilogia, aquela proclamada em julho, o tema do Reino era catequético — Jesus explicava em parábolas o que é o Reino de Deus — agora o tema da trilogia é o trabalho, a atividade no Reino, simbolizado no trabalho da vinha. No 25DTC-A, o Senhor da vinha passa pelas nossas ruas e praças convidando para trabalhar na sua vinha. É o convite que recebemos no dia do Batismo quando acolhemos a fé como compromisso, como dedicação e como atividade cultivadora do Evangelho na sociedade. A fé é fermento, é a luz, é sal... São Paulo, na 2ª leitura do 25DTC-A, diz que devemos viver à altura do Evangelho. Quer dizer com a fé de quem está comprometido com o projeto do Reino de Deus, comprometido em trabalhar na vinha do Senhor. Fé como empenho, como atividade. Vai na mesma linha de São Tiago: assim também a fé: se não se traduz em ações, por si só está morta.”(Tg 2,17).
O mesmo tema da fé, considerada como atividade produtiva e transformadora, encontra-se no 26DTC-A. Neste Domingo, aliás, o exemplo é mais contundente na parábola de dois filhos: um que diz que vai, mas não vai trabalhar na vinha e, outro que diz não, mas depois vai. São dois modelos de cristãos. O primeiro é aquele que cultiva uma fé cheia de boas intenções: vou fazer isso, pode contar comigo para isto, promete trabalhar na pastoral; depois não aparece. Tem fé, mas é fé apagada, sem brilho, sem efetividade. O segundo é o exemplo daquele que pode colocar alguma resistência, mas depois repensa, se arrepende, e vai trabalhar. Este é o exemplo de quem crê com atitudes. É o exemplo da fé atuante e transformadora. É a proposta de como ser cristão, de como ser cristã, em nossos dias.
Serginho Valle
Julho 2020