Amados e chamados por Deus

31 de Julho de 2020


Amados e chamados por Deus
 
A pedagogia de agosto, mês dedicado à oração e reflexão das vocações na Igreja, coloca-nos diante da fonte de todas as vocações: o Coração divino. É modelando-nos ao Coração de Jesus que temos condições de responder concretamente a primeira grande vocação de nossa vida cristã: a vocação batismal.
 
Crise social
A pedagogia litúrgica deste agosto 2020 inicia-se colocando-nos diante da nossa própria experiência social: a crise que passamos. Pede que olhemos para esta crise com o mesmo olhar compassivo que Jesus contemplou o povo com fome (18DTC-A). Olhar compassivo que não se traduz por um simples sentimento de ter “dó do povo” (sentimento de pesar), mas um olhar que toma atitude, que considera a necessidade de alimentar o povo, mesmo se o que se tem para tal fim é muito pouco. O olhar compassivo não é aquele que promove lamentações, mas aquele que provoca reações de partilha e de multiplicação de pães pela solidariedade fraterna.
Vale aqui a atitude do poder, de quem foi chamado para assumir a direção do povo (21DTC-A). Poder a ser exercido com paternidade e com o único interesse focado na vida do povo, no bem-estar do povo. O poder não se exerce com disputas e agressividades para se conquistar domínios e defender interesses, mas com a dedicação de um pai que busca o melhor para seus filhos; o melhor para seu povo. O símbolo das chaves, que aparece na Liturgia do 21DTC-A, indica a necessidade do discernimento para abrir as portas ao bem e fechá-las diante do mal.
 
Experiência de Deus
Um segundo tema presente na pedagogia de agosto é a experiência de Deus. A primeira iluminação está na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, que na nossa proposta celebrativa a celebramos como "Arca da Aliança". Assim como a "Arca da Aliança" continha a Palavra de Deus, os 10 Mandamentos, assim Maria fez experiência profunda de Deus acolhendo, meditando e vivendo a vontade divina a partir de sua Palavra.
É interessante perceber que a Palavra de Deus é sempre silenciosa. Não grita, não fala em microfones; fala aos olhos, quando a lemos; fala aos ouvidos quando silenciamos. Não se apresenta como tempestade de vento ou terremoto, mas no murmúrio da brisa suave (19DTC-A). Para fazer experiência de Deus é preciso entrar no silêncio, porque Deus mora no silêncio. Fazer experiência de Deus é pedir que a voz divina se manifeste em momentos de tempestades, como este que passamos agora. Jesus falou e a tempestade foi acalmada. Ouvir, acolher a Palavra de Deus para acalmar o coração em tempestade.
À medida que vamos fazendo experiência de Deus, mais sentimos sede de Deus. "Minh'alma tem sede de Deus", canta o salmista na celebração do último Domingo de agosto (22DTC-A). O coração humano deseja Deus, deseja a vida plena que se encontra unicamente em Deus. O modo para isso acontecer é modelando a vida na Cruz de Jesus, não entendida como sofrimento, mas como sacramento da vontade divina. Tomar nossa cruz e seguir Jesus, colocando-nos no caminho do discipulado, é o único modo de fazer experiência de Deus e matar a sede do infinito que vive em nós.
Serginho Valle
Junho de 2020