Pedagogia Litúrgica de dezembro 2019

30 de Novembro de 2019


Advento e Natal
 
As celebrações de dezembro contemplam, basicamente, dois aspectos: a espiritualidade do Advento que prepara o encontro com Jesus Cristo na espiritualidade do Natal. A referência à 2ª vinda do Senhor, neste ano, é feita somente no 1º Domingo do Advento, já que a Liturgia do 2º Domingo do Advento cede lugar à Solenidade da Imaculada Conceição. Solenidade plenamente inserida no contexto de preparação do Natal.
 
Ir ao encontro do Senhor: espiritualidade do peregrino
            Mesmo que o termo “advento” tenha como conotação etimológica um significado de espera, do ponto de vista da espiritualidade do Advento, a espera é totalmente dinâmica, caracterizada em dois verbos: ir e preparar; ir ao encontro e preparar caminhos.
            O 1º Domingo do Advento convida a ir ao encontro do Senhor, relacionado à 2ª vinda de Jesus Cristo. Indicativo que a espera da volta do Senhor, como ele prometeu, acontece pela dinâmica do encontro de duas vidas que se aproximam: a vida divina e a vida humana. Aproximação para envolver as duas vidas num único abraço existencial, que é a vida eterna.
            Se Deus oferece, pelo encontro com Jesus, a vida eterna, a participação humana consiste na preparação. É a dinâmica do segundo verbo: preparar caminhos. É importante considerar que esta preparação, de acordo com a proposta da Liturgia, ilumina-se na dinâmica da espiritualidade do peregrino. Espiritualidade de quem está a caminho, buscando a face do Senhor. É na busca do rosto divino que se encontra a mudança de pensamento e de comportamento diante da vida. Quem peregrina em busca de riquezas modela seu coração na ganancia e no egoísmo; quem peregrina buscando a face divina, forma seu coração na paz, na alegria, na serenidade.
 
 

Corações preparados para celebrar o Natal

            O segundo elemento da dimensão pedagogia do Advento é a preparação do Natal, na celebração da 1ª vinda de Jesus; seu ingresso na história humana. Do ponto de vista pedagógico, a Liturgia propõe o exemplo da Virgem Imaculada, na celebração da sua Solenidade. Em contexto exemplar, os celebrantes são convidados a se prepararem para o Natal na pureza do coração, não se maculando com o pecado. Deus é acolhido no coração puro, na vida que não está maculada pelo pecado. Do ponto de vista da Teologia Litúrgica, a introdução da Solenidade da Imaculada Conceição, no Tempo do Advento, portanto, direciona o olhar da Igreja para a obra maravilhosa da Encarnação, fazendo disso motivo de ação de graças. Na proximidade do Natal, a Liturgia pede para contemplarmos como Deus preparou uma Mãe para seu Filho: toda pura, totalmente imaculada, como sacrário vivo do Verbo eterno.
            No 3º Domingo e no 4º Domingo do Advento, a pedagogia litúrgica conduz os celebrantes na preparação próxima do Natal. Do ponto de vista prático, trata-se de sintonizar os celebrantes com o Natal, introduzindo-os no clima natalino, do ponto de vista espiritual. Isto é feito com a introdução de flores no espaço simbólico, pelo uso da cor rosa nos paramentos e pelo convite antifonal da alegria, cantado no 3DTA-A.
            Mas, não somente estes aspectos exteriores, digamos assim. A Liturgia do 3º Domingo do Advento, por exemplo, chama atenção para duas virtudes básicas na preparação do Natal: alegria e paciência. Alegria como característica marcante do coração dos discípulos e discípulas de Jesus. O coração que ama a Deus, que ama Jesus, nunca é triste; celebrar o seu Nascimento é motivo é alegria espiritual, alegria interior.
A segunda virtude, a paciência, encontra-se na 2ª leitura do 3º Domingo do Advento. Servindo-se da metáfora do agricultor, que semeia suas sementes e espera o tempo para que brote, torne-se planta e produza frutos. É a chamada paciência ativa, de quem sabe que não basta semear, porque depois da semeadura aparecem várias atividades: limpar canteiro, regar a planta, colocar estacas para não ser vergada pelo vento. Tudo isso não apenas demonstra a paciência, mas modela o coração na paciência, a virtude de quem cultiva a paz interior.
A alegria e a paciência são virtudes fundamentais na vida cristã porque fortalecem o coração diante das ameaças à fé e à esperança. Virtudes que são fortalecidas pela contemplação do Mistério da Salvação, presente no 4º Domingo do Advento. Uma celebração que é convite para contemplar no Natal a ação divina na terra em favor da humanidade. O modelo proposto pelo 4º Domingo do Advento está no casal José e Maria, ambos grávidos da vida divina, ambos colocados à prova de não ser acolhidos, ambos repletos de esperança e de fé.
 
Deus entra no mundo pela vida humana
            A pedagogia Litúrgica do Natal, presente nas quatro Missas Natalinas, descreve o modo divino de ingressar na história humana. O Filho de Deus entra no mundo pelas gerações, como descrito no Evangelho da Missa da Vigília. Deus não se intromete; ele ingressa pela via da geração humana da vida: de pai e mãe para filho. O ingresso, do Verbo eterno do Pai, entra na nossa história pela via natural da geração humana.
            Isto nos leva a pensar que, ainda hoje, a geração da vida continua sendo um caminho, um meio, com o qual Deus se serve para entrar em nossa história. É o que a Liturgia celebra na Festa da Sagrada Família. Deus entra na história pela família humana. Assim entrou, e assim continua entrando pelas nossas famílias. Eis um motivo forte para entender a atividade da Igreja em favor da família, hoje, extremamente ameaçada, seja interna como externamente. Internamente, quando não se cultivam valores cristãos dentro de casa; externamente, sendo agredida por um verdadeiro arsenal de propagandas que minam ou destroem os valores familiares. Por isso, na Liturgia da Sagrada Família, o exemplo de José, ameaçado por Herodes e por Arquelau, é muito sugestivo. Diante do perigo de expor sua família à ameaça, José decide construir sua casa e sua vida num lugar seguro.
Serginho Valle
Outubro de 2019