Espiritualidade ativa

25 de Maio de 2019


 Espiritualidade ativa

 
A pedagogia litúrgica do mês junho de 2019 oferece uma proposta que contempla a espiritualidade contemplativa e a espiritualidade ativa. Na sequência das datas celebrativas, a proposta ativa precede aquela contemplativa, favorecendo assim a compreensão da interligação entre os dois momentos espirituais: da contemplação para a ação e vice-versa. É uma pedagogia que oferece às nossas equipes de celebrações a oportunidade para reconhecerem que a espiritualidade evangélica nunca aquieta; sempre inquieta.
 
Da ação para a contemplação
            Nosso primeiro movimento chama atenção para a dinâmica da espiritualidade presente no processo evangelizador. É a espiritualidade ativa de quem acolhe o kerigma da Ressurreição de Jesus e se dispõe a ser missionário e evangelizador (Ascensão). Evangelizar com palavras, pela pregação, com depoimentos, com argumentos... e evangelizar com o testemunho existencial próprio de um discípulo de Jesus.
            A condição para se viver esta espiritualidade dinâmica — porque só evangeliza quem cultiva a espiritualidade do Evangelho em sua vida — é obra do Espírito Santo (Pentecostes). É o Espírito de Deus que abre as portas de tantos cenáculos que escondem cristãos para colocá-los em confronto com a realidade existencial do mundo, não em vista da uniformidade quanto a um determinado modo de viver, mas para viver na unidade como proposto por Jesus, no Evangelho. A espiritualidade do evangelizador respeita as diferenças porque entende que o Espírito de Deus anuncia o Evangelho na variedade das línguas e de linguagens (Pentecostes).
            Ainda no processo da espiritualidade ativa, o destaque para outras duas celebrações deste mês de junho 2019. Na celebração de Corpus Christi, a Eucaristia deve ser considerada a fonte do testemunho evangelizador e, ao mesmo tempo, local onde acontece e se renova o compromisso de cada celebrante com o projeto evangelizador do Reino de Deus. Noutra celebração, a Liturgia propõe o exemplo de São Pedro e São Paulo como discípulos de Jesus Cristo que entregaram suas vidas em sacrifício pelo Evangelho. É o grau máximo, podemos dizer, da oblação de um discípulo e discípula de Jesus.
 
 
Contemplação: fonte espiritual da ação
            O que parece um caminho inverso, do contemplar para o agir, na realidade é, na grande maioria dos casos, o processo natural, no caminho da espiritualidade cristã: primeiro se parte para a atividade e depois se conhece a contemplação. Aprende-se, por exemplo, a entrar em contato com Deus contemplando a criação (Santíssima Trindade), contemplando o Coração divino do Bom Pastor, de quem se aprende a dinâmica de ir ao encontro da ovelha perdida para reconduzi-la a prados verdejantes da vida plena (Sagrado Coração de Jesus). A dinâmica evangelizadora sempre conduz a contemplar a face de Jesus para conhecer quem é Jesus na vida pessoal (12DTC-C). Quando isso não acontece corre-se o risco do ativismo. Disso a necessidade da contemplação, que é o conhecimento não pela razão mas pela convivência com o Mistério Divino.
            É pela dinâmica da espiritualidade contemplativa, que inclui neste caso a meditação, que se ingressa no caminho do discipulado (Santíssima Trindade), que se aprende a beber o amor puro na fonte do Coração divino, para que o coração do discípulo e discípula de Jesus torne-se repleto da vida divina; torne-se semelhante ao Coração divino do Mestre (Sagrado Coração de Jesus).
            Como é possível perceber, a espiritualidade é sempre dinâmica, é uma atividade que jamais aquieta quem a cultiva; sempre inquieta. A espiritualidade é um processo inquietante em quem a acolhe; especialmente se esta for a espiritualidade evangélica e evangelizadora. Quando se conhece Jesus a partir da experiência existencial — e para isso se compreende necessariamente o cultivo da espiritualidade evangélica — o discípulo e discípula compreendem que o seguimento de Jesus não lhes tira as cruzes de cada dia (12DTC-C), mas fortalece a vida para carregar o peso das cruzes pessoais, por mais pesadas que estas possam parecer.
Serginho Valle
Maio de 2019