De frente para o povo 
Serginho Valle

            São mais de 50 anos que o padre preside a celebração da Missa voltado para o povo. Mas nem sempre foi assim. Por um bom período, a Missa era feita pelo padre, no altar, dando as costas para o povo. O padre voltava-se para o povo em alguns momentos para saudar o povo e fazer a homilia. Para quem está chegando agora e para a geração dos que completam até 40 anos de idade, ver o padre voltado para a assembléia é a coisa mais natural do mundo. No início, quando o padre começou a mostrar sua cara para a assembléia, muita gente deixou de ir à missa. E ainda hoje, tem gente que não aceita este modo de celebrar a Eucaristia. Querem que o padre não olhe para o povo, mas com o povo esteja voltado para o altar. 
            O padre de frente para o povo tem sua razão de ser. É o modo claro de dizer que o padre está diante da assembléia para exercer um ministério, prestar o serviço de presidir a assembléia. A Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium ilustra tal serviço dizendo  que Cristo está presente no padre que preside a assembléia (SC 7). Isso significa que o padre é sacramento, é sinal de Cristo presidindo a Eucaristia. 
            Com isso, a gente entende que o local do padre na missa é lá na frente, voltado para o seu povo reunido em assembléia. Existem momentos que o padre está no meio do povo e momentos, como na Eucaristia, que ele é chamado a servir seu povo estando na frente da assembléia litúrgica. Isso não é motivo considerar o padre como o dono da missa. Na celebração Eucarística ele é um servidor e um sinal da presença do Cristo que, como em Emaús, partilha o pão e o vinho na parada que fazemos em nossa caminhada. 
            Os padres precisam ter consciência do seu ministério na Missa. Não está na frente do povo para ser animador de auditório, nem artista de uma platéia e muito menos para cumprir uma obrigação profissional. É preciso ser bom na arte de comunicar a fim de levar o povo a celebrar a libertação pascal, rezar, ouvir a Palavra e instruir a viver aquilo que celebrou. Isso deve ser feito com arte, afinal de contas a Missa é a celebração memorial da Salvação de Deus, que Cristo celebra conosco nos sinais sacramentais. E o presidente é um desses sinais sacramentais.